Entrevista com o Senador Virgílio Távora

Entrevista com o Senador Virgílio Távora

PROFESSORA LUCIARA SILVEIRA DE ARAGÃO – Entrevista com o Senador Virgílio Távora, dia 14 de Julho de 1976 para o Programa de História Oral, produto do Convênio da Universidade Federal do Ceará com o Arquivo Nacional do Rio de Janeiro.

 L.A. O senhor gostaria de fazer um breve resumo de sua vida pessoal, dados assim de sua filiação, nome completo, data de nascimento, enfim, dados que servissem a construção de uma biografia sua no futuro?

 V.T. Nasci a 29 de setembro de 1919, Fortaleza. Pais cearenses ele médico e político desde muitos anos. Primeiros passos escolares –  primário, em um estabelecimento célebre aqui em Fortaleza, Nossa Senhora das Vitórias da professora Corina, uma das instituições da terra.

Colégio Militar basilou a caminhada pelo curso secundário. Último ano, mercê das atividades do genitor, cursei-o eu no Rio de Janeiro. Escola Militar, 1936 a 1938; especialidade militar, engenharia. Cursos, pondo em modéstia à parte com primeiro lugar. A carreira militar tivemos ocasião de prestar aperfeiçoamento de nossas atividades em 1945 a 1947 na Escola de Estado Maior, do qual somos também laureados com muitos bens. 1953, Escola Superior de Guerra, posteriormente, nesta mesma Escola fizemos curso de atualização e de informações internacionais. A Escola de Estado-Maior, embora nós já fora do exército, também em 1967, submetemos ao curso de atualização. Passamos 14 anos fora do Estado, 1935 a início de 1949, com pequenas interrupções, talvez dias, que vimos ver parentes, nunca tivemos em mente seguir a carreira política. Falecimento súbito de praticamente toda a família do lado de minha genitora, fez que viesse à terra após tantos anos dar auxílio com forte apoio a meu pai. Aí, 1949, 1º de abril, aliás, um dia que dá para recordar, trocamos praticamente a carreira militar pela carreira política. Deputado Federal três vezes; Ministro de Viação e Obras Públicas, no 1º Gabinete Parlamentarista; Governador do Estado de 1963 a 1966; responsável pela direção da cápsula de seus diretores, quando da confecção de Brasília de 1959 a 1961. Esta, praticamente, a síntese da vida.

 L.A. O senhor poderia nomear detalhes interessantes de sua infância, e falar um pouco sobre seu pai, o ex-governador Fernando Távora?

 V.T.  Meu pai era o mais velho de uma irmandade de 15 membros. Já a minha mãe, de família Reduzida, no caso, três apenas. Quanto ao meu pai o nome completo dele era Manoel do Nascimento Fernandes Távora, por coincidência governou também o Estado, foi Deputado Federal e Senador. A minha mãe: chamava-se Carlota Augusta de Morais Fernandes Távora, morreu relativamente jovem e o senhor meu pai quase tem um centenário, 97 anos. Agora, eu tenho dois filhos: Tereza Maria e Carlos Virgílio Augusto, este com vinte e aquela com quatorze anos. Que me lembre da infância, nada posso relatar assim de destaque, que chame a atenção , algo assim especial.a infância de menino de cidade pequena como Fortaleza naquele tempo era, cujos lazeres eram muito diferentes dos de hoje… as oportunidades da juventude de hoje, é até acaciano afirmar, são outras que não aquelas que usufruímos naquele tempo.Pergunta-se com que coisas  tenho baseado a minha vida. Sim, toda pessoa que se dedica à profissão de engenharia, deve ter um ideal como o que eu tinha na vida… veja, eu seria Ministro de Viação e Obras Públicas, ser um posto por esta pessoa ocupado. Realmente, fomos Ministro de Viação e Obras Públicas numa época muito difícil do país, como primeiro Gabinete Parlamentarista como conversávamos antes…Em segundo passo, governar seu Estado é sempre um sonho.. Todo homem público tem pelo menos o desejo de prestar serviço à sua terra, e realmente nisso fomos felizes e conseguimos fazer. Naquele tempo era muito difícil, difícil mesmo, se falar em organização, em planejamento. A mente humana é muito sujeita a lapsos, quando hoje se fala comumente em projetos, em planos, programações, isso já é corriqueiro, mas quando assumimos o governo deste Estado em 1963, pela primeira vez no

Brasil, um responsável pelo destino do Estado, o fazia com um plano de governo já debaixo do braço. Vender a idéia do PLAMEG foi algo dificílimo, algo relativamente quase superior às forças, era o descrédito, era a aceitação benévola, mas não tendo atrás de si nenhum sintoma de credibilidade, que víamos sempre que nos dirigíamos a todos estes suportes da economia, qual seja as classes produtoras, os intelectuais, vivemos numa verdadeira pregação do que seria o governo planificado; e hoje quando vimos à facilidade com que a idéia do planejamento é aceita em todos os encontros do nosso país e do nosso Estado e até já por prefeituras do interior, felicitamo-nos em ter desbravado esse terreno cá. Fortaleza foi uma cidade órfã, inclusive dos primeiros projetos da Chesf-Paulo Afonso. A dificuldade imensa de pensar em montar uma energia, e essa companhia atrás citada, Hidrelétrica do São Francisco, não incluía nos seus planos, ou mais precisamente, se opunha que fosse incluído nos seus planos, a extensão dessa energia até Fortaleza. Recordando o passado, achamos até engraçado, proclamar que o Cariri não aceitou absolutamente a nossa idéia da eletrificação total do Estado, mercê de uma campanha que deturpava os fatos e que nos mostrava como usurpadores de uma energia que cuidavam eles, em vindo à capital, lhes escaparia. E Fortaleza, seus habitantes, completamente insensíveis à idéia. O destino nos foi muito piedoso depois de muitos anos de incompreensão. Como Ministro de Viação, no tempo atrás citado, tivemos a chance de vir inaugurar nesta própria região da qual tantos agraves havíamos recebido a chegada de energia de Paulo Afonso.Assim como quando governador tivemos para orgulho nosso e para redenção de nossa terra, a felicidade de  em convênio com o governo federal, enfrentando a opinião adversa de todos os técnicos  em  eletrotécnica,  no momento trazer a energia até a capital. Para se ter uma idéia do que foi esta luta, tornou-se conhecida na terra a declaração que um desafio de um Deputado,hoje já morto,não vamos citar-lhe o nome por isso respeitando a sua memória, de que no dia que chegasse essa energia a Fortaleza, ele se sentava numa cadeira elétrica e podia-lhe acionar o botão na Praça do Ferreira,nossa principal praça.

Por esta simples afirmação, veja como apaixonada estava a opinião pública de parte do Estado contra aquilo que hoje em dia se mostrou com a redenção desse, do torrão natal. O que seria o Ceará sem energia de Paulo Afonso, se toda a circunvizinhança, se todos os demais Estados Nordestinos tivessem? Beneficiados por essa grande hidrelétrica, e nós não tivéssemos a menor chance de poder montar aqui uma indústria? A situação nesta  terra era de tal maneira grave até porque as ndústrias, além de terem que montar a sua casa de força própria, quer dizer, seus motores próprios, à noite ainda vendiam energia elétrica para a cidade.na verdade, nós vivíamos em meio a um “black-out”, ora uma região, ora outra, ora um bairro, ora outro.! Pergunta-me você, sobre fatos da nossa vida – então diríamos também: ter sido um dos construtores de Brasília, e também disto muito nos orgulhamos. Uma luta muito grande, com muita incompreensão, mas uma luta por uma idéia, um ideal  previsto na constituição, uma tentativa absolutamente certa. Pertencíamos àquele tempo à U.D.N., por lei um terço das posições desta campanha urbanizadora da nossa capital federal – sigla Nova Cap – seria preenchido por elementos de oposição. Para mim uma alegria, pois fomos distinguidos por nosso partido para ocuparmos esse lugar, e tivemos uma longa provação, já que, partido de líderes,antiga agremiação brigadeirista era por algumas das suas figuras mais expressivas, radicalmente contra a construção a nova capital.

Para verificar a veracidade dessa minha assertiva, não precisa mais, basta compulsar os jornais da época para ver o que diziam Carlos Lacerda, Odilon Braga, Bilac Pinto, Adauto Lúcio Cardoso, para só citar alguns. O que representou Brasília para o Brasil hoje em desenvolvimento, em interiorização de nosso progresso é desnecessário falar. Outra grande experiência que tivemos da vida e que nos é aqui solicitado dar depoimento.

L.A. A idéia de Planejamento governamental do senhor foi de fato um produto de sua formação?

V.T. Simples assim,: desde cedo na vida militar fui conhecido como planejador, e sendo engenheiro militar a tendência se manifestava de uma maneira inequívoca . De uma forma ou outra, desfecho para a vida civil, aqueles mesmos pendores que tinha na vida militar.

O PLAMEG assim chamado naquele tempo, uma heresia, foi feito por uma equipe da escola de Economia.

Esta equipe chefiada por duas grandes expressões nacionais. Basta que se pronunciem os nomes deles: Hélio Beltrão, que, como sabemos,foi depois foi Ministro do Planejamento de Costa e Silva; Aldo Olivério, que era o Secretário de Planejamento justamente do polemico governador  Carlos  Lacerda.

Lacerda. Agora, tivemos o prazer de ver a contribuição  cearense  coordenada óbvio, por homens desse valor citado, ser por eles praticamente toda aceita.  Falar hoje que a Escola de Economia deu, aliás, era a Faculdade de Economia, deu esta contribuição não tem mais nada, mas naquele tempo, os próprios integrantes desse estabelecimento de ensino tomaram um susto quando convidados para, uma vez nós eleitos, participar da confecção deste plano que foi realizado entre a nossa eleição e a nossa assunção de cá.

L.A. Bom, esse planejamento envolveu alguma previsão ,algum planejamento específico ligado no combate às secas? Isto porque me parece que o senhor, ao receber o governo do professor Parsifal Barroso, este teve problemas com isto durante o seu período de governo…Durante o período governamental do senhor, parece também ter havido ao tempo do superintendente João Gonçalves uma  outra ameaça de seca não é? O que o senhor teria a nos dizer sobre isso?

V.T. Bem.. penso que todo planejamento cearense e sua economia, se não levar em conta os fenômenos cíclicos que sobre ele se abate,principalmente a seca,às vezes por ironia do destino temos enchentes, seriam  falhos. Leve-se em conta que justamente sempre com os pés no chão temos que observar que a responsabilidade maior pela forma de recursos envolvidos  caberia ao  governo federal.

Ao governo estadual, a coordenação dentro da sua área daquelas medidas complementares que sempre se fazem necessárias.

L.A. E a aplicação desses recursos do governo federal, como o senhor acha que ela foi feita, o senhor poderia nos fazer uma apreciação sobre o assunto, indicar alguma medida relativa ao combate à seca, ou falar da relação Sudene-Governo do Estado a nível Estadual, nível regional?

V.T. Poderemos dizer que nisso fomos felizes, porque até 64, substituído o Dr. Celso Furtado interinamente pelo General Expedito Sampaio, e logo em seguida pelo Dr. João  Gonçalves encontrou o Governo do Estado na pessoa do seu dirigente um velho amigo e um cearense e conterrâneo, homem de capacidade que justamente deu tudo de si, tudo que necessário para amenizar as agruras porque passamos no ano de 1966 e, nos honramos, com que orgulho dizemos, que foi a primeira seca parcial no Ceará, a qual teve a mancha de ser  imputada  a nenhum dos responsáveis pelo seu combate qualquer partidária ou de colocação de recursos.

L.A. Então, as medidas propriamente ditas do superintendente da Sudene se ligaram a esse relacionamento.

Posso concluir pela existência da ligação entre relacionamentos e o trabalho da Sudene e o Governo do  Estado…

V.T. Inicialmente, fomos recebidos com dificuldade na Sudene, nós representávamos o Centro da Sudene em 1962, e fazemos uma referência toda especial ao seu superintendente Celso Furtado que ao contrário do que muitos dizem, não era comunista, quando muito,podemos dizer tinha idéias socializantes,era cercado, isso sim,de adeptos de ideologias bem estranhas à terra. Então, os primeiros contatos do governador em 1966 com aquele órgão, apesar da amizade que o unia ao superintendente, hoje professor de Sorbonne, Celso Furtado, foi  bem difícil, mas vencemos

Após vitorioso o movimento de 64, tornou-se mais fácil de um lado o entendimento, e de outro

o recebimento de recursos, e perguntará por que. Bem, justamente entrou o Brasil, àquela época, numa fase de extrema austeridade, assim sendo, era muito difícil obter recursos da Sudene –

Quando vemos, hoje, um governador de Estado receber fundos os mais diversos, que sabem entre vocês,entre parênteses, que Estado nordestino faz investimento praticamente à base de recursos federais.nós recordamos do tempo em que esses investimentos todos haviam que ser feitos em mais de 90% do seu valor, com os próprios recursos locais, embora fosse pelo conhecimento de todos que era um quase nada , era muito pouco. Tivemos realmente um grande e  bom relacionamento com a Sudene e nos orgulhamos de dizer que realmente a Sudene representa sem sombra de dúvida para o Nordeste uma das alavancas maiores de seu progresso, com seus enganos, com seus senões, mas sempre nós dizemos e diremos a verdade . O que digo, nós dizemos é uma interrogação: o que seria do Nordeste se não houvesse a Sudene, se não houvesse o Banco do  Nordeste?

L.A. O senhor que é um homem que de fato conhece o seu Estado, tem experiências de visitas pessoais ao interior, conhece os problemas regionais, poderia nos dizer se considera a relação entre o problema das secas e a  política, melhor dizendo,a  relação entre eleições e política local, ou talvez, falar um pouco sobre os problemas que as secas causam à época das eleições?

V.T. Eu não gostaria de tocar no assunto, porque em 1958 fui um dos denunciantes maiores quando o governo federal montou uma máquina colossal disposta a nada mais nada menos que esmagar um candidato ao governo que lhe era  adversário, no caso nós. Então, esse assunto para nós é até um pouco forbíreo, proibido. Não gostamos de tocar. Se tínhamos razão ou não, dirão as dezenas e dezenas de demissões havidas após 1964 no órgão em questão, o DNOCS, por  má  utilização dos dinheiros públicos à época das secas, máxime da seca de 58. Mas podemos dar um testemunho que de 64 para cá,política e seca têm sido campos completamente estanques. A influência imensa que teve o socorro, o combate às secas antes de 1964 em que o dono da seca ganhava eleições, isto terminou. Mas terminou e de uma maneira absoluta e total Mais ainda: os governos de Estado fazem questão de que as providências sejam todas federais, coordenadas pelo governo federal, e quando chegadas obras à suas responsabilidades, eu digo- e aqui me referindo não só ao governo do Ceará, como de  todo  o Nordeste – tem agido de uma maneira absolutamente escrupulosa. Vê você que, locais em que duras são as condições políticas, como por exemplo, Pernambuco, de luta muito acirrada e sujeito em grande parte à seca do momento, não viu até o momento nada que pudesse dizer o contrário.

 L.A. Senador, quando há problemas de seca no Ceará,como essa repercussão na Câmara ela é feita a nível, vamos dizer claramente, exploratório…O assunto merecia ser tratado com maior coerência, não?  Soluções mais modernas, vendo-se o porquê das tradicionais serem tão criticadas. O que pensa a respeito?

V.T. De acordo com o temperamento dos representantes, o assunto é tratado racional ou irracional mente; com paixão; com justiça; ou muitas vezes até com má fé. É fácil se criticar, o difícil, é apresentar soluções, e essas soluções hão de ser construtivas. O nosso modo de agir, pensamos nós, foi sempre nessa direção  não  adianta  achar  que algo está errado se não apresentamos  a necessária contrapartida da solução alvitrada. O Senado, ao qual pertencemos, é mais calmo quando da discussão destes problemas que afligem periodicamente as populações nordestinas. A Câmara já é mais exaltada. Mas, algo nós podemos dizer; não é  senão a muito longo prazo que se poderá na zona semi-árida, uma das áreas que se compõe o Nordeste, ter  uma  solução não p’ra seca, que não comandamos a natureza, mas uma solução que realmente minimize os efeitos desse fenômeno climático.

L.A. O senhor decerto considera importante minimizar o problema climático para tornar o Ceará um Estado mais desenvolvido, apagando um pouco desta imagem de  Estado da fome, chocando o sul do País

V.T. O Ceará realmente é um Estado de economia difícil, mesmo em época em que não há seca. Atribuir a nossa fraqueza econômica ao fenômeno climático é de um primarismo a toda prova isto nós dizemos uma, duas, dez vezes lá no Senado. Isto é, a seca agrava a fragilidade da nossa economia, a nossa economia baseada no boi, no algodão tem  alicerces muito fracos: o algodão de rentabilidade muito baixa, e o boi, pelas condições climáticas com incapacidade de competitivamente, se apresentar rentável ao pecuarista que se dedica à sua criação.

Veja o exemplo: temos um colega goiano, o senador Benedito Ferreira, que possui em Araguaina, lá no Norte de Goiás um grande frigorífico, abatedor. A carne enviada pelo parlamentar, saiba, um grande empresário, para Fortaleza, competitivamente aqui, chega mais barata depois de toda essa viagem, da necessidade de amortização, de todos os gastos que lhe são expressa essas instalações, inclusive com as locais, de frota de caminhão, etc., necessárias ao transporte desse essoal, do que a carne local. Não é que o boi do sul seja,como nós dizemos aqui, o boi gigante de Minas como chamam, não: o nosso boi é que pelas condições climáticas, é atrofiado. Mas se nós temos esse clima, se nós temos esse solo,não podemos mudá-lo,temos é que nos adaptar a ele. Os projetos de irrigação de um lado, e agora esse Projeto Sertanejo, fruto da inteligência de um homem de escol, que  é  o  Dr. José Lins de Albuquerque, hoje superintendente da Sudene, que o Presidente da República deve inaugurar, deve anunciar nesses próximos dias, e o qual já fizemos uma antecipação  por  autorização  presidencial ao senado e através daquela tribuna, ao País, ser desenvolvido em termos adequados às nossas necessidades,  isto é, se em ez de ficar resumido a cinco,  dez  bilhões  de  cruzeiros,  passar para vinte, trinta num futuro,naturalmente mudará a face da economia dessa zona semi-árida na qual, praticamente, está todo o território cearense incluído.

L.A. Eu já ouvi falar de que o Virgílio Távora político é um, e o Virgílio Távora executivo é outro.  Até que ponto o senhor concorda com essa maneira de pensar de algumas pessoas a seu respeito?

 V.T. Pensamos que há uma interpretação errônea a respeito. Somos dos que julgam que uma pessoa só pode ter uma natureza.Se nós somos bons administradores,se nós procedemos corretamente em termos administrativos, temos que fazê-lo em termos político, e se não procedemos corretamente em termos  políticos não teríamos sobrevivido a todas as crises há 28 anos que estamos na vida política, a maior parte na oposição, declarada ou consentiva.

L.A. Houve na realidade no seu governo composição e equilíbrio de forças políticas, e um anulamento inicial de uma oposição que se iniciaria? O que o senhor nos diria sobre esse assunto?

V.T. Em nosso governo o que houve no Ceará foi algo inédito, ante a ameaça comunizante que varria o Nordeste àquela época. Partidos se digladiavam há mais de 50 anos, com nomes sob designações diferentes, se reuniram formando a chamada União pelo Ceará, com surpresa geral, esta União pelo Ceará, tendo como candidato um dos chefes de uma das agremiações, apresentou como conseqüência um resultado eleitoral em Fortaleza que assombrou os mais céticos. Esta cidade, cujas tradições libertárias são conhecidas, deu-nos uma vitória bem expressiva que somadaàquela outra do interior, nos apresentou um governador eleito  que, eu poderia quase afirmar de forma  mais explicita e categórica,como plebiscitariamente. Não houve anulação de oposição dentro da própria União pelo Ceará, nós tínhamos opositores quando do governo, porque nos honramos de ter acabado à época do meu delegado, da minha professora, do meu coletor. Delegado, responsabilidade secretário de segurança pública, que por sua vez perante mim respondia por toda a segurança do interior, perante nós, aliás. Coletor, escolha do senhor secretário da fazenda, responsável por todos recursos para poder ministrar. Professora, rigorosa ordem de classificação – estamos conversa-dos.

 L.A. Nos dias atuais o senhor aceita ser responsável pela eleição do senador Mauro Benevides?

 V.T. Não. O responsável pela eleição do senador Mauro Benevides foi a péssima escolha do seu antagonista. Não gostaríamos de abordar comentários,por inimigo pessoal do candidato. Mas como a  atitude do eleito não fica muito d e acordo com o nosso caráter, uma vez  escolhido, fomos à Sua Excelência o Presidente da República e dissemos clarissimamente e os jornais assim o anunciaram, que não tinha condições éticas, morais e políticas de subir a um palanque e pedir votos para o escolhido por sua excelência. Não cometeria, como não cometi a indignidade de mandar votar no candidato adverso, aliás, meu particular amigo.Quem, em por 27 anos numa política em termos difíceis como a cearense e faz uma declaração pública dessa, pega um navio e vai para o Japão … Deixa bem claro, sem sombra de dúvida a seus correligionários,que se desejarem,ou se desejassem eleger o escolhido pelo poder da República que não contavam com seu trabalho, e isso não dobra caminho em dizer.

 L.A. O senhor acredita no surgimento de novas agremiações políticas? Se isso acontecesse o senhor ficaria em qual delas?

V.T. Inicialmente não acredito. Segunda parte, prejudicante, numa hipótese remotíssima, talvez, que não acreditamos, vamos repetir: ficaríamos no partido que representasse aquilo que achamos a  defesa do atual modelo econômico brasileiro.

L.A. Quando o senhor foi governador do Estado, poderia lembrar, nomear o seu secretariado?

V.T. Eu tenho boa memória: secretário da fazenda, inicialmente, o General Ramalho, que fez uma verdadeira revolução é até hoje relembrado nesse Estado. Posteriormente, por moléstia aquele  afastou-se, veio a falecer, o General Assis Bezerra  por  coincidência  o  mesmo  secretário  da fazenda do atual governador. Secretário de administração, Dr. Moacir Aguiar, a quem devo muitíssimo e hoje por coincidência também, é o secretário de administração do atual governo, com funções diferente, claro. Secretário de polícia, o  Coronel  Clóvis  Alexandrino Nogueira, hoje General e presidente da Teleceará. Secretário de Viação e Obras Públicas, o eminente homem público e superintendente da Sudene José Lins de Albuquerque. Secretário de planejamento, o Dr. Aécio de Borba, e posteriormente, o Dr. José Lins de Albuquerque, que por sua vez substituído da Secretaria de Obras Públicas pelo Dr.Vicente Fialho, por ironia do destino, depois prefeito do governador César Cals. Secretário de Educação, Dr.Hugo Golveia, após Ministro do tribunal de Contas, posteriormente, secretário de Justiça do governo Adauto Bezerra, substituído por Dr. Jader Figueiredo Correia, irmão do Dr. Joaquim de Figueiredo Correia, hoje, deputado pelo M.D.B., e àquela época, vice-governador do Estado. Secretário do Trabalho, inicialmente, o atual, não, o antigo líder do M.D.B., o Dr. Francisco Chagas Vasconcelos, substituído quando deixou pelo Dr. Abelardo Costa Lima.

 L.A. Senador, e no presente algum plano, algum projeto especial está prendendo a sua atenção?

 V.T. Menina, fui muito feliz quando lutei na vida  pública pela eletrificação do estado antes, posteriormente já Ministro, pela eletrificação da Portobras, na luta de 11 anos que o governo  Geisel encampou e tornou realidade, depois pela energisação nuclear do país, lutamos muito contra a ignorância, fomos bem sucedidos. No plano estadual, tivemos uma guerra muito acesa, inclusive com detentores do poder local, e conseguimos, General Médici, então Presidente da República considerar Fortaleza como terceiro pólo de desenvolvimento do Nordeste, para ela carrear recursos, daí um dos grandes impulsos tomados por esta capital, o pólo têxtil, na  sua  configuração  inicial se deve ao General Médici, antecessor do atual presidente.

No momento estamos lutando muito pelo projeto Sertanejo a que nos referimos, estamos bem  conhecidos, e setorialmente por vários outros, inclusive pela construção do Jaburu, que você está lendo aí no jornal. Mas não atribuímos, claro, ao Jaburu, a importância desses outros projetos.

L.A. O senhor gostaria de dizer alguma  coisa sobre o projeto Jaburu?

V.T. O Projeto Jaburu,a nosso ver,mais do que um criador, uma nova fonte de energia numa região, em que esta não é abundante, nós temos como fonte energética cá: o São Francisco em menor escala o Parnaíba, em todo o Nordeste são os aproveitamentos que se vê com mais destaque. Atribuímos a esse projeto a função irrigatória, as funções secundárias de  uma barragem que também tem primordialmente esse sentido energético. É uma longa, sentida e velha aspiração do povo Ibiapabano. Quinta-feira se você ainda estiver aqui, a evolução do tratamento do problema, você terá ocasião de ouvir, moça, lá na Facic.

 L.A. Sim,sim. E como plano imediato para o futuro, algum sonho por realizar?

 V.T. A implantação do acordo nuclear já assinado entre Brasil e Alemanha, é um dos grandes. Segundo: o corte dos gargalos do nosso desenvolvimento, mercê de uma auto-suficiência brasileira em insumos básicos e bens de capitais; e se o povo assim me julgar merecedor, continuar no Senado a lutar pelo Brasil, pelo Ceará.

L.A. Alguma coisa que o senhor pudesse acrescentar?

V.T. O prazer de  ter sido  entrevistado  com tanta inteligência, com tanta delicadeza,  com tanta pertinência.

L.A. Muito obrigada, senador. Em nome do Programa de História Oral, da Universidade Federal do Ceará, em convênio com o Arquivo Nacional, agradecemos ao Coronel Senador Virgílio Távora e aqui encerramos esta parte da entrevista.

Luciara Silveira de Aragão e Frota

● Coordenadora do NEHSC Fortaleza ● Membro do Conselho Editorial deste site

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