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Carapinima Ecos e Icones – Nehsc

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Carapinima Ecos e Icones

Carapinima Ecos e Icones

Seu livro, Rua Carapinima- Ecos e Icones, resgatou e imortalizou o carrossel da minha infancia, por isso, sou-lhe enormemente grata. Nunca pensei, quando recebi de voce este presente, que tal leitura fosse desencadear em mim lembrancas e emocoes tao intensas quantas as que agora sinto.

Atraves de sua memoria fotografica, voce narrou e descreveu, com detalhada fidelidade e surpreendente sensibilidade, a viva poesia das bem-aventurancas de um tempo em que, como disse, a rua, o bairro, a igreja, as escolas e a farta natureza eram uma extensao da nossa propria casa e da nossa propria familia. A sua rua, Carapinima, a minha rua, Padre Francisco Pinto/Vila Santana, e o nosso bairro Gentilandia ( que belo nome: terra dos Gentis, familia tradicional de nossa cidade) eram o nosso referencial universal. Seus icones e seu ecos, creio, fazem parte da memoria coletiva da maioria das pessoas que, naquele tempo, la viveu. Meus icones sao quase todos os mesmos que os seus: Dona Estela Viana, a professora que nos alfabetizou, Dr. Jose Arthur de Carvalho, farmaceutico, fitoterapeuta, e pianista, dono da farmacia com seu nome, que, como disse meu irmao Henry na entrevista ao final do livro, era como o posto de saude do bairro, Dr. Antonio Antero , engenheiro que fez parte da comissao da construcao do Cristo Redentor, Dr. Jose Bastos, agronomo e cientista, Murilo Viana, jornalista, Moreira Campos, premiado contista, Dr. Montezuma, economista, professor Jaime Alberto da Silva, professor e artista, Dra. Rita Barreto, professora de frances no Liceu do Ceara, Emilia Correa Lima, que foi Miss Brasil, meu pai, jornalista e politico, que escreveu em varios jornais de Fortaleza, foi um dos fundadroes da ACI ( Associacao Cearense de Imprensa), organizou a primeira antologia de escritores cearenses, foi secretario de seu tio, Desembargador Faustino de Albuqueque, governador do Ceara; Seu Joca e Seu Moises, com suas sortidas mercearias, Seu Pedrinho, o barbeiro do bairro, Dona Julhinha, professora de catecismo, Padre Cornelio, o belo padre holandes com voz e olhos azuis de gala de cinema, as senhoras maes de familia e donas de casa. E tantos e tantos outros…Voce falou ate em um rapaz por quem eu sentia uma inocente “paixao platonica”, embora nunca tenhamos trocado uma so palavra. Por coincidencia, e tambem medico.

Os colegios, os clubes, o primeiro zoologico, a psicultura, as feiras livres nas belas pracas, os banhos de chuva nas ruas, os sitios com suas fruteiras e suas arvores, as centenas de mangueiras, que eram parte essencial do cenario bucolico e bulicoso do bairro, as rolinhas, os pombos, os bem-te-vis…tudo voce nos trouxe de volta.

Voce tem razao: a rua palpitava- ate quando dormia. E quando despertava, aos sons do sino da igreja dos Remedios ( cujo centenario foi recentemente comemorado ) ja era ricamente sonora e animada, com o grito do padeiro, do leiteiro ( Seu Oscar) que chegava montado em seu cavalo, dos homens que vendiam frutas, dos que vendiam peixe (cavala)- e cuja saudacao era mesmo um cantado ” Alo, fregues”- da chegada das lavadeiras nas casas para levarem, depois de feito um rol, as roupas sujas para serem lavadas nas lagoas; nos, criancas alegres e despreocupadas, caminhando fardadas com os colegas para as escolas, os adultos, caminhando para as paradas dos onibus, porque muitos, creio que a maioria, nao tinham carro.

Ah, que colorida galeria de lembrancas, das coisas e dos costumes, voce, como um romancista nato, utilizando todos os recursos sensoriais, descreveu. Os jardins das casas e dos colegios, a limpeza e a ordem impecaveis do Dispensario dos Pobres, onde iamos visitar minha tia freira, Irma Luiza, e comiamos os retalhos que sobravam depois que as hostias eram recortadas e enviadas para a igreja. As conversas das pessoas do bairro, nas calcadas e no patamar da igreja, depois da missa, pois, naquele tempo, iamos a pe para a igreja e dispunhamos de tempo para conversarmos com as pessoas. La tambem, os inocentes flertes e os namoros se inicavam.

Meu caro, voce nada esqueceu: procurar no ceu o Cruzeiro do Sul e as Tres Marias, ver na lua o movimento do cavalo de Sao Jorge, as assombracoes da mula- sem- cabeca; as novenas, as procissoes, os jejuns da Semana Santa, os retiros durante o carnaval, os comicios politicos, o simbolo da vassoura de Janio Quadros, colocada dentro de uma ampolinha de vidro, e da espadinha em miniatura dourada, do candidato da oposicao, Teixeira Lott. Lembro-me da comemoracao festiva e entusiastica la em casa, quando Janio venceu as eleicoes. Teve bolo, salgadinhos e refigerantes- exigencias esperancosas do meu pai.

Obrigada por incluir no seu livro duas pequenas fotos do colegio Santa Cecilia, onde estudei no segundo ano primario!!! Quando olhei-as, fechei os olhos e voltei nitidamente aos meus sete anos, quando entrava no colegio pelo portao da frente, e seguia naquele caminho comprido, ladeado por contiguas pitangueiras, elegantemente podadas, como se fossem muros verdes, enfeitados com as pequeninos frutas de cor amarela e laranja. Na entrada do colegio tinha uma varanda, e nela, varias cadeiras de balanco dispostas lado a lado, em linha reta. La sentavam, na hora do nosso recreio, onde brincavamos sob as frondosas mangueiras no chao de areia branca e frouxa, Dona Beatriz, minha professora, limpissima e perfumada, e as outras professoras, Diva Albuquerque, elegante e classica, prima do meu pai, Dona Alba, Madre Maria Lucia e outras.

Nao sei lhe dizer o que mais me emocionou no seu livro- porque tudo me emocionou. Mas talvez, uma das mais belas e comoventes passagens foi a sua descricao da nossa mais verdadeira alegria quando diziamos “La vem o trem”:

“Movida a lenha, transportada no tender, provocava aquela fumaca e rebocava uma longa fila de vagoes de carga ou de passageiros num ruidoso desfile. Sua passagem pela Carapinima provaca um abalo semelhante a um terremoto, sentido em toda a redondeza , em razao do deslocamento dos pesados vagoes. Passava deixando no ar os seus apitos alegres e seus torvelhinhos de fumaca que deitavam pelo chao e escureciam o ambiente.

A passagem do trem era formidavel e o maquinista, alvo de admiracao. Que alegria dizermos: “La vem o trem!”. A um so tempo emocionava e amedrontava. A comprida e pesada maquina, sacolejando sua composicao pela rodovia, resfolegava como um dragao, soltando pela chamine e cilindros de expansao uma fumaca escura. Fazia um cadenciado barulho e suas luzes esmaeciam a proporcao que se perdiam na escuridao. Como um vaga-lume, cortava a noite, transportando gente do povo, fardo de algodao, feijao, farinha, oleo vegetal de origem do prorpio caroco do algodao, da mamona e da oiticica. Bovinos, equinos e suinos provenientes de Lavras da Mangabeira, Cedro, Iguatu, Senador Pompeu e de outras cidades eram transportados em vagoes chamados de gaiola. O apito repetido e espalhafatoso repercutia cmo uma saudacao aos moradores da Rua Carapinima, sentados nas calcadas.” Lindo!!!

Hoje despertei com uma mansa chuva de outono tocando no telhado. O outono e a estacao que com maior intensidade me faz sentir o fluir do tempo e em que, instintivamente, faco uma arqueologia da vida.

Monica Campos Hanson

● Médica e cronista

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