Padre Ibiapina – Peregrino da Caridade
Padre Pinto foi também lembrado na Missão Jesuítica de Paupina, antiga denominação de Messejana, para onde foram trasladados posteriormente seus restos mortais.
O local preciso do massacre é desconhecido, mas opina o historiador Geraldo Nobre em sua “História Eclesiástica do Ceará” – 1ª Parte, p. 70, que “o padre Luiz Figueira narrou que os assaltantes levaram tudo da Igreja, deduzindo-se desta afirmativa estarem os missionários na ocasião de volta à aldeia de Ibiapina, embora ele não tenha dito expressamente”.
O corpo do mártir foi levado para o pé da serra a aí sepultado com uma cruz à cabeceira. No mesmo local foram também enterrados o índio Caraibpocu e um outro catecúmeno, ambos também vítimas daquele assalto. Desse dia em diante a aldeia de Jurupariguaçu passou a ser chamada “Mbay-Pina” ou “Paypina’, homenagem ao seu mártir Padre Pinto, verdadeiro fundador de Ibiapina, pois a integrou na civilização e acolheu no grêmio da Igreja.
SERVENTUÁRIO DA JUSTIÇA
Antes de seguir para a rápida estada na povoação, hoje cidade de Ibiapina, Francisco Miguel estivera em agosto de 1815, em presença do ouvidor do Ceará, Dr. João Antônio Rodrigues de Carvalho, que se encontrava em Sobral em viagem de correição, a quem solicitou nomeação para o cargo de escrivão, então vacante.
Com a promessa de ulterior atendimento, foi aguardar o resultado, ainda incerto, em Ibiapina, onde residiam então alguns sobralenses conhecidos. Ali permaneceu até receber o deferimento de seu pedido, enquanto se dedicava a ministrar aulas particulares de alfabetização. A nomeação não foi totalmente a esperada, pois não fora nomeado para Sobral, mas para Icó, onde deveria assumir as funções de escrivão do crime.
De início, teve logo que superar as dificuldades da resistência da família, que se opunha à sua ida, e da fatigante preparação para uma viagem tão penosa para si, para a esposa e os filhos menores. A distância de Sobral a Iço, mesmo em linha reta, são quase quatrocentos quilômetros de sertão impérvio e de calor causticante.
Para o menino José Antonio, então com dez anos de idade, esta longa viagem não deixou também de ser uma experiência penosa, mas misturada como o fascínio da aventura, tão própria de sua idade pré-adolescente. Recebia ele, assim, o primeiro aprendizado de percorrer o sertão, tarefa que, posteriormente, ocuparia os trinta últimos anos de sua vida de incansável missionário peregrino pelo território de cinco províncias do Nordeste.
Esta primeira travessia marcou-lhe profundamente a alma. Pouco depois da chegada ao Iço, rebentou a Revolução Pernambucana de 1817. Francisco Miguel acompanhou os acontecimentos de longe, embora tenha assumido posição tácida a favor dos monarquistas.
Matriculou os filhos mais velhos na escola primaria do professor José Felipe e, pelo bom conceito de pai de família honrado e de competente serventuário da justiça que logo adquiriu, pode conquistar muitos amigos, de alguns dos quais se socorreria, com empréstimos de dinheiro, por ocasião de seus sofrimentos e penúrias no desfecho da confederação do Equador, quando decididamente se colocou contra os monarquistas.
Há quem lhe censure esta mudança, mas é preciso observar que mudada era a Revolução, pois a primeira se fazia, de certa maneira, a favor do príncipe herdeiro Dom Pedro, e a segunda, diretamente contra o já Imperador Pedro I.
(*Extraído do livro “Padre Ibiapina – Peregrino da Caridade”, do Monsenhor Francisco Sadoc de Araújo)