Frei Tito – 34 Anos Depois

Frei Tito – 34 Anos Depois

Explosivo, mas de coração puro e sentimental. Nos alfarrábios dos agostos, a gosto, vividos, encontrei um artigo meu, de 20 de agosto de 1994, publicado no jornal “O Povo” de nosso saudosíssimo Demócrito!

 

Catorze anos passaram-se da publicação e trinta e quatro da morte de Tito. Como tudo que vira história – que os amantes da verdade tratam de não deixar cair no esquecimento e por tão atual  o ser, resolvi reproduzi-lo, ipso facto, alterando apenas as datas. Com o título Frei Tito de Alencar, aqui está para enriquecimento da juventude:

Tomado de incontida emoção li o artigo: Frei Tito de Alencar, 20 anos – do companheiro e amigo Mou­rão. Fui guindado a um mergulho no pas­sado, paradoxalmen­te, perto-longínquo. Perto pelas lembranças tão vivas e presentes de minha adoles­cência, quando convivi lado a lado, nas lides estudantis, no Liceu do Ceará, com Tito de Alencar Lima  o “Papagaio” (apelido daquele colega de turma). Esquadrinhei, com saudade, o labirinto ido de nossa meninice e voltei ao convívio com Tito, arrasando o time do Esporte Clube Águia, da rua Major Facundo, que padecia aos petardos e gols monumentais do saudoso “Papagaio”. Sua função era marcar gols. A minha, segurar na defesa, na base da porrada. Estas eram as missões, que cumpríamos de maneira inarredável. Revivi nossas sessões de estudos, cultura física  pelo método Charles Atlas e brincadeiras, na rua Leonardo Mota, 1515, onde morava meu dileto amigo, as quais corriqueiramente, acabavam sempre que o meni­no Tito deveria ir às reuniões da Congregação Mariana…

Esse passado tão vivo e presente em minha memória, torna-se, no tempo, distante pela rapidez cruel dos anos vividos. Distando aproximadamente 50 anos de nossa quarta série ginasial, posso contemplar a pureza daquela alma adolescente. Mesmo com pequena estatura, exibia um porte atlético escultural, cuja beleza exterior confundia-se com a do espírito, que o tornava um menino-homem.  Sim, menino-homem, que conservava a irriquietude e peraltice de menino e a cabeça pensante e política de adulto. Que discernimen­to! Que respeito à pessoa humana! Tanto que convivíamos e nunca meu amigo tentou impor-me as suas idéias sobre Deus, filosó­ficas ou políticas!… Talvez visse em mim um menino-menino! Tínhamos em torno de 14 anos.

Felizmente, por dádiva divina pensávamos de maneira igual sobre política, Deus e alguns de seus servos, que não fora a misericórdia celestial, certamente, seriam despedidos da mercê do Senhor! Mas, por incrível que pa­reça, nunca conversamos sobre esses assuntos.

Seguimos caminhos diferentes. Tito foi pa­ra o Seminário e eu para a Universidade.

Fui militar, onde, talvez, o meu maior mérito foi impedir que um outro padre, possivelmente, repetisse o calvário de Tito, pela ignomínia de um dedo-duro da caserna, na ânsia insana e bestial de mostrar serviço. Pelo que glorifico a Deus!

Na universidade convivi, pari passu, nas lutas estudantis (fui presidente do Diretório Acadêmico Raimundo Gomes da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Ceará, durante o repressor governo Médici), com companheiros de inefável valor: Galba Gomes, Pedro Albuquerque, Arlindo, Ruth, João de Paula, Inocêncio, Genuíno (deputa­do federal), etc… que permanecem na labuta política e terão ainda que muito trabalha­rem para dar à Pátria, tudo que lhe ofereceu Tito, o saudoso “Papagaio”.

Aliás, hoje mais maduro, fico a conjeturar: será que a alcunha de “Papagaio” deveu-se ao semblante; à riqueza retórica de orador privilegiado, à loquacidade, ou por, imitando à na­tureza, ter um coração verde-amarelo  como papagaio que a mediocridade dos parasitas da Pátria-Mater teimou em pintar de vermelho com o próprio sangue de Tito?

Nonato Soares de Castro

Odontólogo, militar e escritor

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