O Impacto da Descoberta da Fotografia

O Impacto da Descoberta da Fotografia

Não será demais dizer que a arte da fotografia originou-se das descobertas científicas do século XIX e que ela se transformaria, ao longo do tempo, numa das mais fascinantes descobertas de todos os tempos. A fotografia foi inventada na década de 1820 e publicamente divulgada na França. Pelos dez anos que se seguiram logicamente obteve grande sucesso, pois não só se tornou um meio de reprodução em massa da realidade como se transformou num rápido e florescente negócio comercial na França.

Em parte, este sucesso deveu-se aos componentes da boêmia artística sem muito sucesso e aos empreendedores comerciais desejosos de investir num negócio relativamente barato e de retorno presumivelmente seguro. Na Inglaterra, porém a fotografia permaneceu muito tempo como hobby de damas e cavalheiros. Com sucesso assegurado e a avidez pelos retratos baratos, a pequena burguesia parecia insaciável. É lógico que ela passou a se constituir num elemento ameaçador por destruir o monopólio do artista representativo Em 1850, foi criticada como uma ameaça a vários ramos de arte, tais como as litogravuras, gravuras e mesmo a alguns tipos de retratos N. R. Trabalho sobre fotografia de Gisele Freund em Munique, 1968. Como competir com a fotografia e a reprodução direta da realidade exceto pela cor? Indagava-se se a fotografia poderia mesmo substituir a arte e diferentes visões povoavam o imaginário intelectual de então até a mais apropriada delas a de que um artista merecedor desse nome não poderia confundir indústria com arte. Diverso dos realistas, ambíguos e contraditórios, os românticos reacionários como Ingres e Baudelaire acreditavam que o papel correto da fotografia era o de ser uma técnica neutra e subordinada.

A arte se transforma, assim, de uma primeira relação com a pintura a uma amiga íntima do cinema e um dos pontos fundamentais de um historiador da cultura preocupado com o contemporâneo. A modernidade, palavra usada pela primeira vez em 1849 relacionava-se ao ser contemporâneo. Implicando em mudanças as artes necessitavam renovar-se constantemente. A partir do final do século XIX, portanto, as artes forma revolucionadas pela combinação tecnológica versus mercado de massas. A efervescência cultural desabrochou em regiões adormecidas como a Espanha.

Quando o cinema, a fotografia em movimento, triunfou a exibição dessas imagens só tornada tecnicamente viável em 1890, apesar do pioneirismo francês feito em forma de filmes curtos, de forma simultânea não só em Paris, mas em Berlim e Londres, Bruxelas e Nova Iorque. Como exposto, o lazer de massas industrializado revolucionou as artes do século passado o fez independente da avant- garde. Em 1914 não havia envolvimento da vanguarda com o cinema que só o tomou a sério na metade da guerra. Desta forma, a arte moderna – a arte contemporânea do século XX – desenvolveu-se de modo imprevisto.

Foi, porém Nicéphore Niépce (1750-1833), químico francês, quem fez a primeira imagem fotográfica que sobreviveu, no ano de 1826. Tratava-se de uma vista do pátio de sua casa. ( )   Esta imagem está hoje na Gensheim Collection  na Universidade do Texas em Austin. Contudo, foi seu colaborador, Louis J. M. Daguerre (1789-1851), quem criou mais tarde, um processo mais prático (1837). Tratava-se de uma natureza morta, uma cena detalhada de um canto de seu ateliê. Para revelá-la ele a expôs ao ar livre cerca de dez – quinze minutos. Dois anos depois o seu trabalho entra para a história como uma inovação.

Sua importância reside no fato de que, pela primeira vez, retratava-se o ser humano embora de forma não intencional. Esta foto retrata um conhecido e freqüentado boulevard parisiense. O fotógrafo não tinha pretensões de retratar a vida, mas registrou, involuntariamente, a figura parada de um homem engraxando seus sapatos. Isto foi o suficiente para que sua imagem, também exposta ao ar livre se tornasse um documento histórico. As reações à criação da fotografia foram inúmeras. Na França, o pintor romântico Delaroche, conhecido pela minuciosidade e precisão de suas cenas, ouvindo falar da primeira fotografia considerou que a partir daquela data a pintura estaria morta.

Um exagero sem dúvida, mas isto nos dá uma visão do que se pensava da pintura àquela época onde tanto se valorizavam as miniaturas. A arte de pintar miniaturas foi esquecida e substituída pelos daguerreótipos absolutos, que ficavam prontos em quinze minutos e custavam doze centavos e meio. Naturalmente, longo seria o processo de fixar, com auxílio da luz, numa chapa ou película sensível, a imagem de objetos dispostos diante de uma câmara escura, e a reprodução obtida dessa imagem. A reprodução, descrição ou cópia minuciosa exata e fiel é, hoje, por si mesma parte integrante de qualquer definição de fotografia.  Vale lembrar que desde Rogério Bacon, o maior e mais famoso cientista medieval, a clara compreensão de que em ciência só os métodos experimentais dão a certeza, percebeu-se ser um homem um mágico que faz coisas extraordinárias. Foi Bacon um descobridor de muitos fatos ligados à ótica e possivelmente inventou o microscópio. Sem as descobertas das ciências proeminentemente francesas como a química e a física e os estudos óticos teria sido impossível o advento da fotografia.

Retrospectivamente a crença de meados do século XIX de que a forma de arte não era importante e o conteúdo valia tudo. Então, a literatura era a chave artística do período embora não existisse subordinação das outras artes a ela. Talvez seja mais justo dizer que se esperava que cada arte fosse expressiva e que o ideal da obra de arte total as unisse  como Gesamtkusntwerk, ideal do qual Wagner se fez porta-voz. Fica claro que as arte que exprimiam palavras ou imagens representativas gozavam de primazia sobre as outras, Havia uma ânsia de resposta a questão de que se trata, refletindo a própria visão de então e a resposta escolhida era sempre vida e realidade.

Daí o realismo termo que pode ser considerado ambíguo, mas que era uma tentativa de apreender a realidade, imagens, idéias e sentimentos. A  burguesia triunfante do final do século estava indecisa, pois a imagem que sonhava representar era discrepante na medida mesma em que a realidade refletisse pobreza, desejos, paixões, cuja existência era em essência uma ameaça à sua estabilidade. Numa sociedade dinâmica e progressista a realidade não poderia ser estática, donde o realismo ser dual oscilando entre o presente imperfeito e a aspiração de um porvir. A forma de sair desse dilema incluía opções sérias. Uma delas, era a reprodução da realidade incluindo o desagradável o que dizia respeito a uma consciência crítica da sociedade burguesa e que terminou por se transformar no naturalismo ou verismo (3). Outra alternativa era o abandono total de qualquer realidade afastando-se das ligações com a vida, notadamente da vida contemporânea (4). Ainda, uma outra opção, era a de que o artista não adotasse ou se retirasse de uma abordagem fantasiosa deliberadamente para que as suas imagens básicas pudessem continuar a ser lidas como fiéis á realidade. Foi neste delicado momento, que as artes visuais sofreram justamente, o impacto poderoso da tecnologia com o advento da competição da fotografia.

(3) Colbert na pintura e Emile Zola na literatura.

(4) A “Arte pela Arte”.

Eugenia Désirée Frota

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