Literatura de Cordel (Um Passeio na História pela Praia de Iracema)
Só quem viu, sabe. Só quem morou ali alcança o mesmo espanto frente à beleza e o feitiço da praia de dunas brancas, que se estendia da Barra e o Cocó virgem intocada, cuja estória Luís Aragão nos conta em seu romanceiro popular, que atravessa sete dias ,sete meses, sete anos, quiçá sete décadas … E de sete em sete versos, caminha soprado por ventos brejeiros que adejam o areal espetado de coqueiros, aos sons da em bolada e do repente, da batida do coco, sob a luz de candeeiros e da Via Láctea, narrando a valentia do jangadeiro.
Heróis sofridos, cujas aventuras Jacaré tão bem simbolizou ,assombraram o mundo, indo ao Rio de Janeiro e Argentina, tornando–se mártires e enredo de filme americano. Suas empreitadas, como as dos portugueses, tornaram-se épicas na simplicidade dos brancos lençóis desta praia. Jacaré adormeceu para sempre no fundo do oceano.
São frágeis as jangadas com suas antigas velas de algodãozinho branco, mas possuidoras de tanta ciência na sua construção e na de seus apetrechos, só para poderem ir pra onde Deus quiser…
Mas, frágil também era a praia: logo a história nos conta que foi Netuno, enfurecido, que em represália a construção de um novo cais “No mar fez um levante” e destruiu ruas e sobrados antigos do litoral de Iracema.
Assim, de verso em verso vamos sentindo as perdas quase imperceptíveis, se vistas com as lentes de hoje. Mas, quem viveu, viu. E o cordel nos conta. Enquanto as fotos antigas servem para revelar e enredar.
Mas, o sopro das mudanças trouxe também tantas coisas boas, tantos locais de encontro, típicos. Logo o Ramon, antigo restaurante destruído pelas águas, foi substituído por inúmeros locais que enriqueceram a praia, como Zero Hora, Tony’s, o Lido, o Estoril e tantos outros.
Chegaram os clubes Tabajaras, Diários, Jangada e Estoril ,caminhando como um prenúncio do que seria a praia para turistas, hoje tão distante daquela Vila de Pescadores.
O Estoril nos remonta a II Grande Guerra, e a uma segunda invasão: esta não das águas, mas de novos costumes. Ali, onde a água traspassava o sólido quebra-mar, numa grande depressão formava–se uma piscina onde a índia sereia, em noite de lua cheia, ia banhar–se.
É essa a Iracema das lendas.Onde nossos olhos hoje “vêem um mar de lama, cheia de pedras cortantes, de bueiros e esgotos…”.
O grande vagalhão não levou apenas Jacaré para o fundo do mar ou deixou a aventura de Tatá perdida próxima do Pólo Sul.
Tantas coisas mais foram levadas e outras tantas foram trazidas.
O Cordelista nos fala dos marcos históricos, das escolas, da folia em Iracema, dos moradores famosos, dos nomes indígenas das ruas… e dos seus ciúmes por Iracema.
Mas, há uma Iracema frente ao mar, arco retesado num gesto simbólico atirando, nossas esperanças para o futuro. Essa a bela mensagem do cordel de Luís Aragão.
Drª. Cláudia Leitão
Secretária de Cultura do Estado
O Nascer de Iracema
Iracema de Alencar
Em honra ao grande escritor
Um filho de Messejana
Homem de culto valor
Que o povo inteiro proclama
É todo mundo lhe chama
Nosso maior escritor
O amor do luso e a Índia
Bem ele imortalizou
De Martim e de Iracema
Moacir se originou
Quando a guerreira esvaiu
Do Mucuripe partiu
Com seu filho emigrou
Ao gosto do mar eu falo
Grito forte na Pocema
Que já foi Praia do Peixe
Ora já foi Praia do Peixe
Mergulhando na história
De um bairro cheio de glória
Da nossa Musa Poema
Enorme de brilho intenso
Era o belo litoral
Da Barra até o Cocó
Puro e tão virginal
Parece assim Deus ter feito
Um lugar assim perfeito
No mundo celestial
Da Praia o nome crescia
Todos queriam ficar
A índia tinha um feitiço
Ninguém queria voltar
Dunas brancas que a areia faz
Vento puro e muita paz
Aqui podiam encontrar
Mais duas ruas havia
Muito além dos Tabajaras
Eram muitas residências
Bonitas e muito caras
Bem distante o mar ficava
Ao longe se caminhava
Por tantas belezas raras
A Dona Maria Júlia
Da imensidão dos coqueiros
O sol quando aparecia
Com seus raios primeiros
No areal que havia
O coqueiral reluzia
Brisa ventos brejeiros
Na vila dos pescadores
Ao clarão da luarada
Dançavam dança do coco
Com repente e embolada
E, o jangadeiro valente
Rumava pra sua gente
No clima da madrugada
E cantava toda à noite
O Marcolino e o Carneiro
Fosse claro ou noite escura
Sob a luz do candeeiro
A Via Láctea brilhava
E todo mundo escutava
O canto do jangadeiro:
“Sete dias, sete meses,sete anos
Sete padres no altar
Sete salas de quadrilha
Sete tambores a rufar
Sete pandeiros tocando
Sete rapazes namorando
Numa noite de luar”.
Heróis Jangadeiros e suas Viagens Espetaculares
Bravura de jangadeiro
É de homem destemido
Impetuoso e valente
Corajoso e aguerrido
Somente a Deus é temente
Nada há que não enfrente
Esse herói tão sofrido
No Tempo da servidão
O jangadeiro lutou
Ao transporte de escravos
Ao lado da Redentora
E a classe libertadora
Com ele se rebelou
Um prático-mor da barra
De moral e muita ação
Era Chico da Matilde
Mais tarde do mar Dragão
- José Nascimento
O líder do movimento
Em prol da libertação
Convidado foi ao Rio
Para nos representar
E lá por Terra da Luz
Foi chamado o Ceará
A jangada nos pertence
È o símbolo cearense
Pelo mundo d’além mar
Setembro de quarenta e um
Meio século tinha ido
Do grande Dragão do Mar
Tudo já era esquecido
E um quarteto valente
De forma diferente
Se mostrou decidido
Ir ao Rio de Janeiro
Falar com o presidente
E partiram de jangada
Orgulho da nossa gente
Não seria uma aventura
E, sim uma forma pura
De mostrar o que se sente
Assim, todo o nosso estado
A decisão apoiou
Até o Doutor Pimentel
Que era o interventor
Chamou “raid” da Coragem
Pois para fazer tal viagem
Tinha que ser lutador
Chico Altino construiu
A jangada dos “sem medo”.
Frei Perdigão batizou
Com o nome de São “Pedro”
Para serenar os ventos de açoites violentos
O oceano, tem segredo
Partiram de onde é hoje
O atual Paredão
Fortaleza era Iracema
Iracema era a Nação
Lenço branco se agitava
Banda de música tocava
Era tudo um coração
Parte do mastro e bolina
Com a vela já desfraldada
A bandeira brasileira
Ao vento tremulava
Vinte barcos de escolta
Circulavam sempre em volta
Da “São Pedro” abençoada
Foram 1.500 milhas
Em dois meses e um dia
Temporais e muito sol
Tanta dor e agonia
Por sobre as ondas da morte
Entregues à boa sorte,
Mas lamentos não havia
Os quatro predestinados
Emocionaram o País
Getúlio Vargas contente
A eles abraça e diz:
“Homens d ‘alma corajosa”.
Oh! Gente forte e briosa
O Brasil está feliz
“Não vimos aqui pedir”.
E, sim, reivindicar.
Melhor condição de vida
Pro nosso homem do Mar
A nossa classe trabalha
Vive em barraca de palha
E isso tem que mudar”.
Disseram que o motivo
Do risco de suas vidas
Foi para chamar a atenção
Que as pessoas desassistidas
Causam dor e sofrimento
E isso, nesse momento,
Há com pessoas queridas
O Rio todo aplaudia
Aos humildes de ação
Desfilou em carro aberto
Aquele grupo mais que irmão
É conto, lenda e poema
Dessa, Praia tão Suprema
Em eterna louvação
Raimundo Correia Lima
Ou simplesmente Tatá
Jerônimo André de Souza
Com dois Manoeis são de cá
Manoel Preto é Pereira
Manoel Jacaré de Meira
No céu já chegaram lá
A história ganhou o mundo
Orson Wells escutou
No ano quarenta e dois veio
Ele um filme iniciou
E em nossa Fortaleza
Sentiu muita tristeza
Com o sofrer do pescador
Por falta de condições
Voltou ao Rio para filmar
Conduzindo os jangadeiros
De retorno aquele mar
E na barra da Tijuca
Mais de uma cena maluca
O diretor quis mostrar
O herói não é doublé
Esqueceu o escritor
Aquela raça de homens
Não é falsa como o ator
De medo só sabe o nome
Passa frio, passa fome,
Mas não perde o seu valor
E assim ficou o grupo
Esperando um vagalhão
Bem forte como no dia
Da ida à consagração
E no meio da comédia
O final foi de tragédia
Daquela triste lição
Em inglês “It’s all true”
No português “Tudo é verdade”
O título do filme diz
Da dura realidade
Jacaré morreu no fundo
Do oceano seu mundo
Foi viver na eternidade
Uma segunda viagem
Que Tatá bem comandou
Ao Rio Grande do Sul
Com Mané Preto zarpou
Juntos a Frade e Batista
Não há homem que resista
Aquilo que Deus traçou
“Nossa Senhora d’ Assunção”
Padre Pita batizou
A garbosa jangada
Que a equipe levou
Os gaúchos então viram
Os Pampas aplaudiram
O Ceará que lá chegou
Voltaram de cavalo
Nem navio ou avião
Jangadeiros a galope
E bebendo chimarrão
Homens do meu Nordeste
Quatro cabras da peste
Cada um num alazão
Outros homens de aço
O mar um dia singraram
Luiz, José, Samuel
E Jerônimo mostraram
Não vagaram ao léu
Seguindo estrelas do céu
Pra Argentina rumaram
Luiz era garoupa
Levou a vida a pescar
Tinha este nome de peixe
Sua vida era no mar
A jangada irão chamar
“De Tereza Goulart”
E a virgem há de os guardar
Portanto trinta e três léguas
Tiveram que recuar
Uma grande tempestade
Os levou noutro lugar
Perdidos na escuridão
Três dias nenhum clarão,
Ficaram sem avistar
Próximo do Pólo Sul
Tudo fica congelado
Noventa dias com fé
Um milagre era esperado
Um apito bem distante
Se ouviu da nau “Bandeirante”
O grupo foi resgatado
Foram a Buenos Aires
Diante da Casa Rosada
Argentinos curiosos
Frondizi era Presidente
A esposa de presente
Lhes deu uma barca equipada
Jangadas
Uma mulher bem sabia
Na Praia comerciar
Isaura Carlos de Souza
Se fazia respeitar
A mãe de Pedro Garoupa
Não precisou tirar a roupa
Para se emancipar
“Jaraqui” e “Itajubá”
Eram nomes de jangadas
De Dona Sinhá Garoupa
As duas bem alinhadas
Com as velas de algodãozinho
Mostravam todo o carinho
Por ela, tão refinada
Pra fazer boa jangada
Com zelo na construção
Amadeira é de piuba
De boa conservação
Vem do Norte do Pará
Tem que se importar de lá
Pois aqui não existe, não
Medindo trinta e seis palmos
É sempre a embarcação
Vinte e dois centímetros cada
Abertos na minha mão
Comprimento da jangada
Pequenina e apertada,
Mas grande no coração
Da família da jangada
Bem muito se fala destes
O bote de treze palmos
De vinte e nove Paquetes
Bote de casco é quarenta
Grande viagem agüenta
Merecem também lembretes
Os seis paus têm seus nomes
Sendo assim intitulados
Os dois do centro são meios
Imediatos encostados
Por “bordos” são conhecidos
Assim bem distribuídos
Memburas dois são chamados
Arranjos de popa e proa
Ostentam a Jangada bela
Sustentando o Mastro Grande
E tem o Banco de Vela
Carlinga é pequenina
Tábua dos meios e Bolinha
Vela de algodão é ela
Presa a Ligeira no Mastro
No Espeques também é
A Escolta amarrada
Se puxa com muita fé
Pra ela se encher de vento
E a Jangada em movimento
Ir pra onde Deus quiser
Os Caçadores são tornos
Tuacu pedra furada
Cuia de Vela é uma concha
A Quimanga é bem guardada
Tupinambaba com anzóis
Samburá peixes pra nós
Bicheira arrasta a pescada
Banco de governo ao Mestre
A Forquilha é bem fixada
Macho e Fêmea remo é leme
A Araçanga e pra porrada
Do anzol arame é Ipú
Búzio que chama é Atapú
Sopra o Terral a Jangada
Bucólico e pequeno Cais
Encostado ao Paredão
Enfileirados Paquetes
Quem pesca tem tradição
Coró, Piaba, Lanceta
O Batata e a Pilombeta
Peixe também é atração
Pontes
Final Século Dezoito
O Paredão Pedro Segundo
Antes das pontes havia
Nos ligava com o mundo.
E lá no Estaleiro ainda
A paisagem é muito linda
Com o “Mara Hope” ao fundo
Ponte Metálica foi feita
Para ser primeiro cais
No entanto, o mar revolto
Não permitiu, jamais.
Ao largo a nau ficava
Ela nunca atracava
A distância era demais
Itaimbé, Itaquicé
Os Itas da Companhia
Alvarengas iam buscar
A cara mercadoria
Visitantes esperavam
Gasolinas chegavam
E todo mundo trazia
Caminhões, do Viaduto
Pro’s armazéns do Boris
Tinha a Loyd e V. Castro
Não “enricou” quem não quis
Sob trilhos em vagões
Carregam os peões
A riqueza do País
A Ponte velha tremia
Ameaçando cair
Os estrangeiros tiveram
Outra que construir
Também não suportou
O mar não demorou
A dos ingleses ruir
Um Cais se conseguiu
Logo depois da Guerra
Mucuripe ondas do mar
Iracema aqui soterra
É bela página virada
De uma história contada,
Um período que se encerra
Catolé lidou nas pontes
Nelas bem trabalhou
Em anos 3 e 26
De tudo participou
Ele dizia: “Meu filho,
Da Ponte até os trilhos
A força do mar levou”.
Lá do Alto da Balança
Escola de instrução
Por cima da Ponte veio
Pousar um avião
Do Aeroclube seu fundador
Mestre Clésio testemunhou
Esta única ocasião.
Bondinho e Maria Fumaça
Pelas ruas sempre calmas
O Bondinho trafegava
Por sobre os trilhos do tempo
Passageiros se levava
Lá na Praça dos Leões
E em outras estações
O povo desembarcava
Turmas pegavam bochecha
Toalhada era sem dó
O condutor se zangava
A pivetada de cor
Zombava do Motorneiro
Gritava num coro inteiro
Mamãe… Mamãe Dorme só…
Tinha a Maria Fumaça
Que levava os operários
Para a construção do Cais
“Sapeca” com os diários
Pilotava a Cento e Seis
A Vinte Nove e a Três
Nunca faltou aos horários
Diante ao “Ferro de Engomar”
Uma pedra do trem caiu
Groairas com Tremembés
Tudo aquilo a turma viu
Foi a Pedra da Saudade
Ali se previu em verdade
A Praia se destruiu
Antigos Restaurantes
Ramon, o espanhol
Tinha belo Restaurante
Defronte ao mar ficava
Tudo se foi num instante
Netuno enfurecido
Pelo Cais construído
No mar fez um levante
O Deus do mar não perdoa
Com ira e inclemência
Soterrou o litoral
Inclusive as residências
A de Ramon desabafou
O velho gringo chorou
Daí foi pra decadência
Sempre após meia-noite
O pontual Zero Hora
Sopa cabeça de peixe
Da Ressaca era a melhora
E dos clubes elegantes
Vinham de perto ou distante
Ver o romper da aurora
Recordando o Tony’s
Lembrando Figueiredão
Sorvete bem gelado
E show com nova atração
Vento trouxe Veleiro
Um “Barco” passageiro
Depois do aluvião
Edifício era o Restô
Ali foi o velho Lido
Monsieur era Charles
Francês muito querido
Após, Alcino ficou
Artistas apresentou
Sucupira muito ouvido
Tucupi com camarão
É gostoso Tacacá
Foi um bar restaurante
Estoril, junto de lá
Comida degustada
Umbelina “mãos de fada”
Viva o povo do Pará
Houve conosco o Nylu’s
Do Nilo que é Holanda
Ninguém esquece Dandão
Coração é quem manda
Cayton, Glauber, Pebinha
Gláucia, Gueda,Toinha
A família, onde anda?
Se for pra escolher,
Preferisse a Opção.
Vir a ser recebido
Pelo Aroldo Aragão
Não é por ser parente
O homem é competente
Nosso querido “Aroldão”.
Velhos Bares
Zaírton Gruta da Praia
O bar nunca fechou
Um, Sete, Quatro, Sete,Oito…
Alô, Gruta ao seu dispor
Peixe fresco, água de coco
De tudo tinha lá um pouco
E Zairton, Deus levou
Era Beco do Rosalvo
A Canaã do Oliveira
Êta, que cachaça boa
Sempre pura e de primeira
Na hora que o bar fechava
A turma inda chorava
Por mais uma saideira
Ali esteve o Sambinha
Do tamanho d’ um polegar
Uma mulher a Maria
Ela foi dona do bar
Andando lá, gerações,
Cantaram suas canções
Reviver, é bom sonhar
Hoje é Bar Doce Bar
Do folclore parada
Didi é “Prateado”
Dessa Praia idolatrada
Maurício nome marcante
Pra’s mulheres, importante,
É o “Rei da Madeirada”
Bar Doce Bar recuou
No canto foi Gourmezinho
À esquerda do “São Luís”
Eram Lúcia e Galeguinho
Getúlio é o dono do ponto
E fato e muito conto
Narra-se sobre o barzinho
No posto tinha o Postinho
Em meio à bifurcação
De José Néri, o “Didi”
Empresário de ação
O filho Othon chamado
Posto de Iracema tem dado
Trabalho e dedicação
Iara e Raimundinho
Os dois bares da paixão
Aleardo e Titico
Vicente do Violão
Carlinhos Seresteiro
No Acorde Violeiro
Com sua pura canção
Antigas Mercearias
Tinha a Maria Biés
Bom Salão de Dança havia
Na Itapipoca, esquina
Aberta da noite ao dia
Todo mundo brincava
E a P.R.E NOVE irradiava
Festas na Dona Maria
Na rua Tigipió
Zé Gonçalves possuía
Uma grande bodega
Clóvis, após chegaria
Homem trabalhador
Era bom vendedor
Tinha muita freguesia
Na Tremembés tinha outra,
Proprietário foi o Simão
Samuel, Araújo, Ivã
Depois, donos com ação
Sarrabulho e Feijoada
Peixe Frito e Panelada
E cachaça no balcão
O Raul já foi bodega
Na Vila Correinha
Hoje é a melhor picanha
Tinha arroz e farinha
Seu Raul trabalhando
O dia todo suando
Criou família todinha
Mercadinho da Dona Edite
De uma mulher de valor
O comércio se instalava
Onde o “São Luís” ficou
Assim, com sensatez,
A mãe do Lincoln se fez
Dos filhos muito cuidou
Tinha Panela, tem Cari
Seu Antonio é bodega
Pereba também é uma
Ao Rui gente se apega
A do grande Aracati
É tudo povo daqui
Tradição não se nega
Clubes Antigos
Famoso clube na Tabajaras
Tinha sede social
Palco de boas festas
Nosso antigo Ideal
Que além de sua beleza
Se tornou em Fortaleza
Famoso cartão postal
Diários também aqui
A nossa Praia viu
Sua sede na Quadra
Ao tempo que existiu
Em todas as idades
Foi, deixou saudades,
Quando um dia partiu
Péricles Moreira da Rocha
Praia Clube dirigia
Tinha Quadra de Esportes
Salão de festas havia
Defronte à Piscininha
E a sociedade todinha
Presente, ali, se fazia
Clássico Jangada Clube
Pertinho da João Cordeiro
Fernando Pinto era tido
Amigo do jangadeiro
Velho canhão na entrada
Boca pro mar apontada
Alerta o marinheiro
O clube do América
Da Praia foi egresso
Lívio Amaro formou
Um time de progresso
Era onde é o Pirata
A localização é exata
O Clube foi um sucesso
Correios participavam
Do certame estadual
No ararius tinha sede
O simpático Nacional
Que ao respirar nossa brisa
Em muito grande deu “pisa”
O querido time local
Ceará ficou maior
Na Iracema querida
Na década de Sessenta
A equipe decidida
Com sede na Cariris
Levou um de seus Tris
E aumentou a sua torcida
O CREPE sempre cheio
Clube da Pernambucana
As pessoas adoravam
A juventude bacana
Cabelos soltos nas testas
Fomos donos das festas
Daqueles fins de semana
Meirelles de Idealzinho
Massapeense, Comercial
Sexta, sábado,fervia
Domingo de matinal
Iracema lá curtia
Pensando que não haveria
Daqueles dias final
Bem na frente dos dois clubes
A boite Madrugada
Churrasco do Cirandinha
“Bibi” e “Muda Tarada”
Idelfonso e Aquidabã
Lá Todo mundo era fã
De Lalá do Carne Assada.
Estoril e sua História
Família Porto começa
História que se fez
Bucólica Vila Morena
Foi feita com altivez
Tudo ia bem na terra
Até a Segunda Guerra
Do homem, insensatez
Veio americano aqui
E logo se admirou
Na guerra era aliado
No local se alojou
Mudando seu destino
Instalando grande cassino
Jogo e festa começaram
Foi For All para todos
Swing e Chá-Chá-Chá
De luta não se falava
A Europa era mais para lá
E as garotas Coca-Cola
Todas metidas a gabola
As piranhas do lugar
No final da batalha
Aos portos se devolveu
O prédio feito de taipa
Ali a família cedeu
Para o luso Zé Ferreira
Um português de primeira
Que um novo nome lhe deu
Em Quarenta e Sete
Já chamado de Estoril
De verde e vermelho
O prédio ele coloriu
Com as cores de Portugal
Da bandeira nacional
O Restaurante surgiu
Logo após, Zé Gonçalves
O local gerenciou
E as mãos de Zé Pequeno
Num ano ele passou
Em noventa e quatro o vento
Disse ao mar: “É o momento!”
E o velho prédio tombou
Uma passagem de glória
No Estoril se viveu
Aquele belo local
Fortaleza acolheu
Fosse ele rico ou pobre
Humilde, plebeu ou nobre
Distinção não ocorreu
Neném e Barão gerentes
Bebê a nos atender
Moreira o rubro Limão
Sitônio nunca esquecer
João Gouveia o Baleia
Chaguinha de cara cheia
Ninguém fosse se meter
Times da Praia Antiga
Na década de Quarenta
Os times de futebol
“Iracema” foi à primeira
Equipe do arrebol
O onze era raçudo
E o Chico Cabeludo
Era o craque do pebol
Houve um time Corinthians
O CEPI. Do Eliseu
A equipe lutava
Teve fama e apogeu
No torneio da Aldeota
Foi o melhor da pelota
O Título assim mereceu
Rui, Fernandinho e Mourão
Partiram Carrim, Goiaba,
Mas tem Faço e Baíbe;
Ferdinand, Bado, Gari,
Luciano, Aracati
Zé Branco não se acaba
Nacional, Ferroviário,
Foi Seleção Cearense.
Sport, Vasco da Gama,
Brilhava o Quixadaense
Santista e Olaria
Em Portugal jogaria
Pacoti, o Iracemense.
Piscininha
Tentando conter maré
Construiu-se um quebra-mar
Que começou lá na ponte
No “Lido” foi terminar
A água que transpassava
Uma depressão formava
Bem rasa e bem circular
Com isso Coronel Porto
Essa chance aproveitou
E no pequeno declive
Mais ainda ele cavou
Dizem que a índia sereia
Em noite de Lua Cheia
No local banho tomou
Dentro do leito macio
A criançada brincava
O famoso racha havia
Depois que a maré secava
E a brisa lenta à tardinha
Em volta da Piscininha
Benzia quem se amava
Agora é um mar de lama
Cheia de pedras cortantes
De bueiros e esgotos.
Em lugar dos mais fascinantes
É preciso uma limpeza
Pra resgatar a beleza
Da Piscininha de antes
Marcos Históricos e Escolas
Primeiro, Hotel Pacajús
Batista foi o pioneiro
Depois, o Plaza Hotel
Philomeno empreiteiro
Com hóspedes elegantes
Moradores importantes
Até Lúcio Brasileiro
A Estação dos Correios
Em frente ao mar se firmou
Antenas sempre ligadas
Pro mundo inteiro falou
E no local mensageiro
Francisco Alísio Pinheiro
É ilustre morador
Capitania dos Portos,
Alfândega foi federal
Alberto Nepomuceno
Maestro no pedestal.
Iracema Arco dobrando
Paredões mar sustentando
Nesse Bairro sem igual
O bom Instituto Kennedy
Muita gente educou
Quininha e Maria Augusta
A todos bem ensinou
Era na José Avelino
Tudo o que foi de menino
De castigo lá ficou
Professora Dona Vilma
Na Rua Tigipió
O colégio São Pedro
Ministrou o que é melhor
Respeito e Esperança
No adulto e na criança
Era tudo um brilho só
Escola do Elvira Pinho
Sempre com muita ação
Exemplo de ensino público
De enorme dedicação
Professores competentes
Ensinos eficientes
Valorizam a educação
No ano de Trinta e Nove
Padre Pita e Marilinha
Organizavam trabalhos
De São Pedro Igrejinha
Ela se edificou
Como é linda a capelinha
No nosso Centro Espírita
O Santo é muito lembrado
É na rua Ararius
De Pedro, Apóstolo chamado
E lá toda a cidade
Já tem feito caridade
Mesmo ao mais necessitado
Thmoskhenko dirige
Estoril da Prefeitura
Tem zelo Moacir
Pela bela arquitetura
Há um lindo restaurante
Balé Bianchi, brilhante,
Galeria Arte e Cultura
O lindo Centro de Artes
Majestoso Dragão do Mar
Onde a memória do povo
Muito se faz preservar
Cine, Teatro, Oficina,
O planetário ilumina
Todo o céu do Ceará.
Folia em Iracema
Senhor João do Miramar
Esquina da São Lunguinho
Rua que morou o Joca
Que adorava um baralhinho
Joca foi xará de João
Simples de bom coração
Se foi como passarinho
E tinha lá o “Ás de Espada”
No lugar o seu cantinho
Mário Amâncio e Benior
Miramar tinha carinho
Luiz Rainha reinava
Braz do Balaio girava
Ao Triângulo do Betinho
Surgiram Blocos de rua
“Turma Bamba” e “Camarão”
Paladinos do Amor
“Coca-Cola” era cordão
“Não Quero Choro” afinada
Com “Turma da Invernada”
“Garotos do Frevo” são
Em boa Escola de Samba
Transformou-se Camarão
Veio “Leopoldina” show
Sempre com muita emoção
“Pajeú” foi de Escol
E o bonito “Girassol”
Fez um grupo campeão
Bandas e Blocos bons
No carnaval deram grito
Primeira a “Banda Iracema”
Após ela a “Periquito”
Do “Mexe-Mexe”, Fuxico
“Que M. é Essa”, eu indico
É muito bloco bonito.
Apresentando Amigos e Moradores da Praia de Iracema
É Ernani Barreira
Nosso Desembargador
Helio Rola e seus murais
Vescencio é bom editor.
No Estoril Cláudio Pereira,
Sua mesa era a primeira
Ali foi o freqüentador
Dirige, Francisca a AMPI
Dedé e Acrísio presentes,
Vital, Marçal, Ascânio
E Edmundo, são pés-quentes
As bancas de Miti e “Pedo”
Abertas são muito cedo
Dando notícias recentes
Poço da Draga é Iracema
A história é quem conhece
Valdomiro e Tapiocas,
Valmir, Fuampa, quem esquece?
San, Urso, Geralda, Paulão
João Brito, a Associação
Aplauso bem merece
Adeus Jamu e Peixoto
Tem, Cristina e Paulinho,
Jeová, Edílson e Caubi
Madalena e Betinho
Ronaldo, se foi Zezinho,
Pipiu, o mundo é moinho
Eurico, a vida é carinho
Dunga Odakan, poeta
Serrão vive a cantar
Carlinhos Palhano, artistas
Gegê, fez bem comprovar
De Francesco Vicente,
Zeno fez “Canto da gente”
E Audifax, “Iracemar”
José Tarcisio, artista
No corredor do Dragão
Fez ali bela passagem
Da vida, continuação
D’Costa, poeta, cantor
Mágico das telas, pintor
Os dois, um só coração
Augusto, Paulo, Bastião
Petrônio, William Doutor
Bombinha, Quinquinha e Misso,
Banana é bom jogador
Baiaca, de Gato, sócio
Com Zé Guedes, o negócio
Não precisa fiador
D. Maisinha e Claúdios
Vicente, Ernani, Celsinho
Douglas, corvo, Pantico
César, Fernando, Chiquinho
Dandão e Marina daqui
Socorro, Milena e Caubi
Seu Ivã, nos curou tudinho
Jandira, Anselmo, Caubi
Por Ted e Jabá, se sente
Puraquê, Capão e Leco;
Mário e Luis, docemente
Passaram a outras vidas
Elias, tais pessoas queridas
Eram gente da gente
Trave pequena de pedras
A Praia toda rachada
Na quadra ou piscininha
A canela se descascava
Perna de pau ou craque
Vibrava defesa e ataque
Só o gol interessava
Ari, Odilon, Joel e Leo
“Tadeus”, Airton e Miltão
“Nenéns”, Jean, Góes, Rui
Veri, Marinho, Chico, João
Dedé, Wilson, Paninho
Kleber, Z’Aires, Netinho
Toin, Luciano e Elmir Gavião
Celina, Noima e Lurdes,
Umberto, Boiadinha
Vanda, Celsa, Mazéveras
Norma, Vitória, Verinha,
Maranguape de apreço
Ozinco, alguém esqueço?
Perdão à Praia todinha
Lúcio e Fernando o Surf
Com Bibita incentivaram
Zé Edson, Wilson, Aragão
“Banda Iracema” formaram
Mestre Pio na bateria
Na quadra da noite ao dia
Todos no bairro dançaram
Jornalzinho “a Voz do Catra”
D’um grupo Catraieiro
Homem da torre sabia
A vida do povo inteiro
E a “Rainha da Madeira”
Não gostou da brincadeira
E o jornal foi prisioneiro
Na Sauna, Cultura Física
Turma boa ia malhar
Coco verde gelado
João,seu facão a cortar
Futebol com Noé e Cordeiro
Não havia jogo inteiro
O pau era certo cantar
Aurílio Gurgel o nome
Daquele da boemia
Responsável e respeitável
Dumaresq conhecia
Jânio e Lincoln, com atitude,
Valdêncio o clube não mude
A “Casa é do Mincharia”
Dos Mercadinhos São Luís
Na praia já fez teto
Uma bela família
Pessoal muito correto
Com Deus Ramalho está
Tem Fernando e Cacá
Lembranças mando pro Neto
D’Iracema se avista
Bar da Dona Mocinha,
Primeira Dama do Samba
Até no Rio é Rainha
Vinte e cinco anos são
Do Bar dela, que é Leão
Sabe a Fortal todinha
Bênçãos quero pedir
A Fagner e Belchior,
Sávio, Dílson, Ednardo
E tudo o que é cantador,
Bernardo, cultura viva,
Com Marreco e Beija-Flôr
Viaja o bom revisor
Professor Túlio Monteiro
Com Klevisson na Jangada
Que o vento leva ligeiro
Zé Maria cordelista
Poeta e repentista
É também um passageiro
Jornalista Carlos Paiva
Em espírito presente
Airton Monte escreveu
Uma crônica inteligente
Gervásio Paula em abril
Narrou queda do Estoril
Em reportagem envolvente
Secretários de Cultura
O poeta Barros Pinho
A FUNCET na praia faz
Um trabalho de carinho
Do estado, Claudia Leitão
Aqui o grande “Dragão”
Em Iracema fez seu ninho
Dr. Lúcio, Governador
Dr. Juraci, Prefeito
O som de poucos bares
Muito mal a nós tem feito
Alguns fogem das lutas
Culpando as prostitutas
Isto é um grande defeito
Existe a Lei do Silêncio
É do Código Brasileiro
Foi feita para ser cumprida
Por nós ou pelo estrangeiro
Quem pensa que o Alvará
Anarquizar direito dá
Tem que ser preso primeiro.
Louvação à Iracema
A Rua Idelfonso Albano
Dois bairros faz divisar
Meireles e Iracema
Praias do lindo lugar
Meirelles, vento conduz
Iracema, sol reluz
São as estrelas-do-mar
Atrás do Poço da Draga
Praia nasce à beira-mar
Vai a Idelfonso Albano
Até Monsenhor encontrar
O “Dragão” aparecendo
Ladeira se vai descendo
Com a índia a caminhar
Os nomes belos das ruas
Raimundo Girão criou
Assim nossos indígenas
O mesmo homenageou
Aquidaban Avenida
Que foi substituída
Por quem lhe historiou
São todas assim chamadas
Tigipió, Potiguaras
Tupi, Ararius
Cariris, Tabajaras
Grairas, Guanacés
Pacajus,Tremembés
Itapipoca e Jucás, raras
Há vinte anos estive
Com o Luiz Assunção
Que no piano tocou
Aquela linda canção
“Adeus Praia de Iracema”
Música mais que poema
Um hino de adoração
Tenho amor por Iracema
Ao mar digo meus queixumes
Do tempo que não é mais
Dos que já foram costumes
Dos males que a rodeiam
Das ilusões que a enfeitam
Do bairro tenho ciúmes
Iracema não confunde
Empresário e aventureiro
O primeiro aqui produz
É nosso companheiro
Pedimos ao segundo
Explorador do sub mundo
Vá embora “Raparigueiro!”
É a praia de Iracema
Capital de Fortaleza
Onde o verde-azul do mar
Sob o sol tem mais beleza
A Virgem dos Lábios de Mel
Com a Lua num painel
A moldura é a natureza
Navegando com Praianos
Inspiradores do tema
Numa jangada de versos
O Cordel traçou seu lema
Preservando na memória
UM PASSEIO NA HISTÓRIA
PELA PRAIA DE IRACEMA.
Imagem de capa: Rafa Gomes – IRACEMA FORTALEZA XILOGRAVURA