JOSÉ ARISTODEMO PINOTTI
Memória e cidadania
José Aristodemo Pinotti: ciência e humanismo
Após lutar durante quase um ano contra um câncer de pulmão, o ginecologista e obstetra José Aristodemo Pinotti morreu na madrugada de 1º de julho de 2009 aos 74 anos, no Hospital Sírio-Libanês em São Paulo. Como deputado federal licenciado, ocupava o cargo de secretário especial da Mulher na Prefeitura da cidade na atual gestão Kassab.
Dr. Pinotti,como era conhecido, paulista nascido em 20 de dezembro de 1934, formou-se em medicina na Universidade de São Paulo em 1958 especializando-se em câncer ginecológico e mamário na Universidade de Florença. Istituto Nazionale dei Tumori de Milão e Institute Gustave Roussy de Paris. Nessa condição, desenvolveu o seu lado humano, simples e desprentencioso e como diretor executivo do Instituto da Mulher do Hospital das Clínicas de São Paulo e chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da USP consagrou-se como uma das personalidade mais dedicadas aos problemas ligados à saúde da mulher. Médico conhecido mundialmente na área de saúde da mulher, liderou o combate ao câncer de mama e o do de colo de útero, além de defensor da ampliação do direito ao aborto. Em Campinas, implantou um dos primeiros programas preventivos contra o câncer e ajudou a criar o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), uma referência continental citada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Acadêmico estudioso,foi professor titular na USP e na Unicamp e suas publicações científicas formam um acervo de mais de mil publicações entre excelentes livros, artigos, monografias e participação em congressos nacionais e internacionais.
Administrador renomado, foi nomeado reitor da UNICAMP em 20 de fevereiro de 1982, tendo permanecido no cargo até meados de1986. Durante sua gestão foi instalada a Prefeitura do campus universitário, estabelecido oficialmente o Instituto de Geociências, além de criados o Instituto de Econmia e a Faculdade de Educação Física.
Atuou em diversos períodos e com diversos políticos .Independente das polêmicas e disputas provocadas, além da ocupação da atual secretaria da Mulher, Pinotti foi secretário da Educação do Estado de São Paulo entre 1986 – 1987 na gestão Franco Montoro; secretário Estadual da Saúde de 1987 – 1991 na gestão Quércia; secretário de Saúde na Prefeitura de São Paulo em 2000 na gestão Régis de Oliveira; secretário municipal de Educação São Paulo 2005 – 2006 na gestão José Serra;secretário estadual de Ensino Superior em 2007 também na gestão Serra.
Pinotti defendeu o direito das mulheres a interromper a gravidez de anencéfalos, fetos sem cérebro, em audiência pública no STF. Entre as suas mais recentes bandeiras, anote-se o fim de áreas de atendimento para planos de saúde em hospitais públicos e o ressarcimento ao SUS pelo atendimento de convênios.
Corajoso, enfrentou resistências nas suas recentes passagens por cargos na área da educação. Em 2007, a criação da Secretaria de Ensino Superior foi um dos motivos usados por professores, funcionários e alunos da USP para uma greve. Eles entendiam que a secretaria ameaçava a autonomia universitária. Pinotti também enfrentou uma outra greve de professores quando cuidou da área na capital e tentou implantar um avançado programa de ensino em tempo integral. Para os grevistas não havia uma adequada preparação da rede de ensino.
Faleceu no curso do seu terceiro mandato como deputado federal tendo sido candidato à prefeitura de São Paulo em 1996 pelo PMDB. O País perde assim, um talento de múltiplas vocações na ciência, na administração pública, na política nacional, cenário onde primava pela correção e postura ética.Deixa uma lacuna profunda e saudades no coração de tantas mulheres que indiscriminadamente, ouviu, consolou e animou nas suas horas difíceis como vítimas do câncer. Nosso respeito a um ser humano admirável e cidadão exemplar.