D. HÉLDER CÂMARA
D. HÉLDER E A AMÉRICA LATINA
Por Luciara Silveira de Aragão e Frota
À época da morte de D. Hélder, nascido em 7 de fevereiro de 1909 e falecido em 27 de agosto de 1999, receava-se, não sem razão, pelo futuro da democracia na América Latina. Certamente, não se tratava só de pessimismo… O que entristecia era a perspectiva do declínio democrático, seja porque lamentada sempre pela perspectiva de fuga dos investidores estrangeiros, seja por falta de democracia. O degringolar da economia, pensava-se, tiraria dos donos do capital o sono e o apetite para investir. Ora, todos sabemos o quanto a estabilidade política democrática é importante para o futuro dos investimentos, mas alguém duvida da necessidade da liberdade como sua essência?
Ainda permanecia, no Paraguai de então, a rivalidade política acirrada com o assassínio de Luís Maria Arganã e, no caso, o desequilíbrio interno da Colômbia, podendo lesar também os países vizinhos quanto à soberania amazônica. Ao presidente Andrés Pastrana não restavam saídas fáceis. A possibilidade de negociação com as FARC, dando maiores poderes aos militares, para a sobrevivência do País, enquanto Estado, era um caminho áspero. (não entendi o parágrafo. Tentei refazer, mas não sei se funciona) Quanto à Venezuela, a proposta inicial do coronel Hugo Chávez, iniciou-se sob os auspícios de uma alternativa ao neo-liberalismo. O endurecimento de suas posições, suprimindo os direitos da oposição, davam indícios de um controle impróprio ao exercício democrático, refletindo-se em ingerências na Suprema Corte e na desmoralização do Congresso.
Apesar de sempre acusados de “memória curta”, os brasileiros, decerto, recordam bem as restrições políticas e os estritos limites à sua liberdade, iniciados em l964, bem como as difamações da própria diplomacia brasileira contra D. Hélder Câmara, quando de suas indicações ao prêmio Nobel da Paz.Acredito, pois, no contágio dos maus exemplos de então à distorção democrática vivida entre nós.
Hoje, mesmo após considerações sobre o impeachment do Presidente Collor ou dos mais variados motivos que levaram a baixa aceitação do presidente Fernando Henrique Cardoso e do declínio de sua popularidade, nada se poderá falar de nenhum dos dois presidentes contrários aos seus espíritos democráticos de governo. Depois, temos todos o dever e o compromisso de preservar o legado do patrono da ala progressista do clero, D. Hélder Câmara, nesse ano de 2009, quando cumpriria cem anos de idade. Bendizemos o legado pastoral, atuante e corajoso, desse eterno símbolo de defesa da democracia que devemos resguardar para a posteridade. Como disse dele D. Paulo Evaristo Arns, ” D. Helder foi fiel à Igreja e ao povo do Brasil e da América Latina. “Sua resistência à ditadura, seu carisma, e bondade, inspirarão para sempre, gestos de “ação, justiça e paz”. Não importa se o seu prestígio declinou com João Paulo II, receoso de contaminações na doutrina da igreja. Tudo ele aceitou com obediência e nem mesmo a justificada fama de filósofo e pensador o distanciaram da virtude da humildade.Não importa se apelidaram o tão bom pastor de “bispo vermelho”. Por acaso, não é também o vermelho a cor símbolo da renovação no Natal?