A América Latina e o Governo Obama
Para o editorial da revista britânica The Economist, editado nesta semana de agosto de 2009, os EUA cobram uma modificação da postura do governo brasileiro em relação a dois países:Venezuela e Cuba.A Revista critica a ausência de denúncia, por parte do governo brasileiro, do uso do antiamericanismo na América Latina “como um pretexto para o autoritarismo,” numa referência implícita ao presidente Hugo Chávez.
Fazendo um balanço da Cúpula das Américas e das supostas novas políticas do estreante presidente americano, Barack Obama, para a América Latina, o editorial afirma que os Estados Unidos pretendem convencer ao mundo de que são uma “força para o bem”. Assim, a resposta esperada a esta “nova postura” do governo norte americano, tanto no Brasil como no restante dos países da região, deve ser a adoção de uma atitude de maior firmeza para garantir valores, como a democracia e os direitos humanos, “relativamente recentes”, mantendo-os do ponto de vista“sustentável”.
No texto, o registro do antiamericanismo na América Latina como estimulado pela “atitude autoritária e arrogante” do governo de George Bush, não contém maiores menções às políticas anteriores de outros presidentes norte americanos, que fizeram acirrar a antipatia contra o “grande irmão’’ desde a chamada “diplomacia do porrete”. O editorial critica o governo de George Bush, como elemento que transformou os Estados Unidos em um “alvo fácil” para aqueles que, como o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, gostam de ter um “bode expiatório” estrangeiro como culpado pelos” problemas de seus países”.
Ora, a aceitação dessa assertiva, implica no reconhecimento implícito, do uso do antiamericanismo como conveniente desculpa para os malogros das políticas internas democráticas desses países, vestindo como uma luva, o momento político na Venezuela, quando Chávez adota medidas restritivas e impróprias aos ideais democráticos. Fatos dessa natureza, deixam a região vulnerável a críticas dessa natureza onde violações práticadas, em nome do regime democrático, resultam numa clara política onde os fins que justificam os meios.
Naturalmente, a postura de Obama, segundo o editorial da revista, tratando os países da região como “iguais” durante a cúpula de Trinidad e Tobago insere-se numa tentativa de recuperar o tempo perdido em que países como o Brasil, do ponto de vista comercial, priorizaram a China. A declarada determinação do novo presidente dos EUA em “ desarmar os críticos antiamericanos” é parte da estratégia necessária a uma reconquista regional,a partir da anulação da resistência à instalação de bases militares na Colombia.Não se pode perder de vista que essa “nova postura” insere-se no quadro maior de mudanças da diplomacia norte americana, refletidas no apoio de Obama à luta contra o narcotráfico no México e a atitudes de polidez com Hugo Chávez.Obama sabe que deve tomar medidas o mais possível divergentes das expressas pelo seu antecessor e que é isto o que lhe confere uma certa áurea de simpatias, adornada de esperanças que tantos esperam ver concretizadas.
A chamada “nova política” de Obama para a América Latina, incluindo, no caso de Cuba, a anulação de restrições a viagens e o envio de remessas por parte de cubano-americanos, pode chegar ao encerramento do embargo. Esta nova realidade pode acontecer independente da sua classificação como ato “injusto”. No caso, só passará a ser considerado ato “justo”, pela diplomacia de Washington quando claramente se revelar “ilógico e contraproducente” aos interesses dos EUA. Embora o The Economist, reconheça que, “assim como seu antecessor, Obama “inteligentemente” reconheça a nova posição do Brasil como o líder da América Latina, vai continuar a caber ao Brasil o ônus, melhor dizendo ao consumidor brasileiro, o pagamento do preço dessa liderança. No momento temos a proposta de um Parlasul sem bases concretas, quer na integração regional, quer na solidez de um aspirado mercado comum, o MERCOSUL. O Parlasul, é mais um investimento a drenar os cofres públicos com o pagamento de deputados e suas mordomias,às custas do contribuinte brasileiro. De fato, há dezoito anos de sua formação, o Brasil investe na liderança do bloco adotando políticas comerciais que não o beneficiam. No fundo das divergências internas do MERCOSUL, o Brasil tenta apagar a imagem do chamado imperialismo brasileño acrescida da certeza de que, independente da sua liderança, para o governo Obama, a América Latina deverá continuar em segundo plano. A tônica é, portanto, reconquistar e não priorizar.