A Hanseniase no Brasil

A Hanseniase no Brasil

Embora considerada pela maioria leiga uma doença extinta do Brasil, a Hanseníase ainda é considerada um grave problema de saúde pública.

O nosso país é o segundo do mundo em detecção de casos novos, estando atrás somente da Índia; e nas Américas ocupa o primeiro lugar.

O agente causador tem predileção pela pele e por nervos periféricos, podendo atingir qualquer região do corpo. Este tropismo pelos nervos periféricos confere a esta doença um grande potencial para desenvolver incapacidades físicas, que podem evoluir para deformidades visíveis. Na realidade, representa uma das principais doenças infecciosas que gera incapacidades permanentes, com impactos não apenas do ponto de vista físico como também social e psicológico. Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (Ministério da Saúde), 3 mil pessoas/ano foram diagnosticadas com deformidade física no Brasil nos últimos dois anos.

O Brasil notificou em 2007, 40.126 casos novos, o que o caracteriza como um país hiperendêmico. As principais regiões endêmicas são o norte, o centro-oeste e o nordeste brasileiro, em ordem decrescente de detecção. O Ceará apresentou uma detecção de 30,16 casos novos por 100.000 habitantes, no ano de 2007, que o coloca na décima segunda posição entre os estados da federação e o quarto entre os estados nordestinos. No que se refere a detecção de casos novos em menores de 15 anos o Brasil apresenta índices muito alto e considerando-se que a ocorrência destes casos sinaliza para uma dinâmica de transmissão recente pela existência de fontes humanas ativas de infecção, esses dados são bastante significativos. A região nordeste foi responsável por 47,0% de todos os casos em menores de 15 anos de idade no país em 2007. O Estado do Ceará isoladamente foi responsável por 5,5% de todos os casos em menores de 15 anos de idade do país, o 6º lugar entre todas as unidades da Federação em termos de número absoluto.

 

A hanseníase é doença infectocontagiosa, de caráter crônico, causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Ainda que o termo lepra (Leprosy) seja adotado na maioria dos países, no Brasil, pelo seu teor estigmatizante, foi substituído por hanseníase. O agente causador tem predileção pela pele e por nervos periféricos, podendo atingir qualquer região do corpo. Este tropismo pelos nervos periféricos confere a esta doença um grande potencial para desenvolver incapacidades físicas, que podem evoluir para deformidades visíveis. Na realidade, representa uma das principais doenças infecciosas que gera incapacidades permanentes, com impactos não apenas do ponto de vista físico como também social e psicológico. Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (Ministério da Saúde), 3 mil pessoas/ano foram diagnosticadas com deformidade física no Brasil nos últimos dois anos.

A transmissão ocorre entre humanos, através do contato direto com secreções nasais, da orofaringe e soluções de continuidade (feridas) da pele dos pacientes com alta carga bacilar, que não se encontram em tratamento. O bacilo tem a característica de possuir uma alta infectividade e baixa patogenicidade, ou seja, infectam uma grande quantidade de pessoas, mas apenas uma pequena parcela destes adoece. com nos últimos dois anos.

A doença apresenta formas variadas de manifestações, mas a mancha dormente é a principal e a mais característica forma de suspeição. Diversas lesões podem estar presentes na pele de um paciente com hanseníase: manchas mal delimitadas, manchas bem delimitadas, lesões tuberculóides, nodulares ou infiltrativas. No comprometimento neural as primeiras alterações ocorrem nas fibras sensitivas com déficit de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil; progredindo para alterações motoras e autonômicas. O diagnóstico é complexo exigindo do profissional médico conhecimento, destreza e habilidade em reconhecer as diversas formas de apresentação desta doença. Na maioria das vezes não são empregados métodos diagnósticos auxiliares. O tratamento é gratuito na rede de atenção básica à saúde, e a cura ocorre no final deste, após seis ou dose meses, dependendo da classificação da doença.

Apesar da elevada magnitude, o caráter de doença negligenciada compromete sistematicamente o seu controle. O combate à doença sempre desafiou conceitos e convicções sobre tratamento, propagação, confinamento e regeneração, sob múltiplos significados epidemiológicos, médicos, culturais e sociais, referidos ao estigma da doença, do pecado e da impureza. O preconceito ainda é um grande desafio enfrentado pelos portadores de hanseníase e fundamentalmente influencia no seu tratamento e na expectativa de cura. Aliados a isto somam-se fatores climáticos, nutricionais, econômicos, hábitos de vida, movimentos migratórios e terapia inadequada que facilitam a propagação da endemia. Por meio de uma análise das ações e resultados obtidos nas ultimas décadas, as dificuldades no processo de eliminação no Brasil poderiam ser atribuídas, entre outras, as seguintes razões: a complexidade do diagnostico e de alguns procedimentos administrativos referentes ao diagnóstico, algum grau de centralização e verticalidade do processo de controle da doença, falta de participação dos gestores, no nível local, nas ações de controle, sistema de informação não totalmente confiável e a percepção negativa sobre a hanseníase por parte da comunidade e mesmo por parte de muitos profissionais de saúde.

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Gustavo Sobreira Vasques

Médico e articulista

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